No dia 14 de novembro aconteceu a cerimônia de premiação da 35ª edição do Prêmio Rheinboldt-Hauptmann – concedido pelo Instituto de Química da USP, que busca reconhecer acadêmicos pela excelência de seus trabalhos e pesquisas científicas na área da Química, Bioquímica e correlatas. O contemplado deste ano foi um pesquisador interno do Instituto, o Professor Doutor Walter Ribeiro Terra.
O prêmio foi criado em homenagem aos docentes Heinrich Rheinboldt e Heinrich Hauptmann, os quais ajudaram a fundar o Departamento de Química da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Posteriormente, este departamento se tornaria o atual Instituto de Química sediado no Campus Butantã.
A cerimônia contou com a presença de amigos e colegas de profissão de Walter Terra, além de discursos de sua ex-orientanda Adriana Lopes, atual pesquisadora do Instituto Butantan, e Sandro Roberto Marana, colaborador do mesmo grupo de pesquisa. Os dois convidados homenagearam e relembraram não só sua excelência acadêmica, mas também o destaque em sua atuação como docente.
Trajetória do premiado
Terra é Professor Sênior do Departamento de Bioquímica e tem como linha de pesquisa a fisiologia molecular e enzimologia do processo digestivo dos insetos. Já ocupou o cargo de vice-diretor do IQ e é membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
O pesquisador é originário de Uberlândia (MG), formado em Ciências Biológicas e admite que sempre quis seguir o caminho acadêmico. “Quando terminei o colégio, já tinha intenção de fazer pesquisa. Vim para a USP, para São Paulo, desde o início pensando em me dedicar à Ciência. Não sabia direito como funcionava, mas no fim deu certo”, conta Terra.
Apesar de ser formado na área da Biologia, o pesquisador aproximou-se da Química através de optativas que cursou na graduação. “Fiz uma iniciação científica que me inseriu no assunto dos insetos, mas na época era um aspecto mais fisiológico. Trabalhei como auxiliar molecular na Medicina, recém-formado; eram outros tempos. Com isso, tive muito contato com o mundo da Bioquímica”, relembra Terra.
O especialista percorreu uma longa trajetória para chegar onde se encontra hoje: “trabalhei desde sempre com insetos, já os analisei em diversos aspectos. No meu doutorado, por exemplo, pesquisava o sangue dos insetos, por conta das células da hemolinfa – que tinham configuração de expansão, com as primeiras evidências de amplificação gênica”. Depois, desenvolveu um interesse mais aprofundado pelo sistema digestivo desses insetos: “eles [insetos] têm uma carapaça em volta que é muito dura, o que dificulta de matá-lo – a não ser com inseticida, que é muito tóxico. Sua única área desprotegida é o tubo digestivo, onde encontramos alvos que podem ser utilizados para controle biológico”, compartilha Terra. Esse tipo de pesquisa tem frequente fluxo de investimento financeiro, pelo interesse econômico que gera ao impactar produções agrícolas e possíveis surtos de doenças.
Ao longo de sua carreira, o professor conta ter utilizado inúmeros métodos para estudar cada vez mais a nível molecular os fenômenos que acontecem no organismo dos artrópodes. Manipulou, por exemplo, enzimas que funcionam como ótimos alvos, por serem muito distintas das presentes nos vertebrados. As possibilidades de pesquisas são infinitas, ele defende: “não se pode generalizar, as espécies de insetos são muito diferentes. Estudamos as diferentes árvores reprodutivas para entender a evolução e as características”.
O Prêmio Rheinboldt-Hauptmann
Em mérito de seu extenso e relevante trabalho acadêmico, o professor Terra foi o premiado de 2024 – representando assim mais uma figura que contribuiu não só para o avanço da Química Brasileira, mas também para o desenvolvimento do Instituto. “Eu tenho noção que possuo uma carreira bem sucedida, até com bons índices internacionais. Posso dizer que tive um pouco de sorte: uma boa formação; comecei a mexer no assunto antes das outras pessoas, de forma que fui citado inúmeras vezes. Mas não pensava que iria receber o prêmio, isso significa muito pra mim”, comenta.
O pesquisador fala ainda sobre a importância do prêmio e o que ele representa: “você sabe o prestígio de uma nomeação por aqueles que já foram premiados – e a lista desse prêmio é impressionante, tanto de químicos como bioquímicos. Então, ser colocado no meio deles, eu fico muito honrado. Ainda mais pelo fato de ser daqui da Química, onde tenho orgulho de pertencer”, finaliza.