IQ realiza evento em homenagem a Ana Rosa Kucinski

No dia 26 de abril de 2024, o Instituto de Química da Universidade de São Paulo sediou um evento em homenagem à Profa. Dra. Ana Rosa Kucinski – docente na área de Química Analítica e vítima da Ditadura Militar no Brasil, sequestrada e assassinada há 50 anos.
 
A cerimônia começou com algumas palavras do diretor do IQ, o Prof. Dr. Pedro Vitoriano de Oliveira. Ele apresentou um breve panorama histórico dos 60 anos da implantação da Ditadura Militar no Brasil e comentou sobre a importância de relembrar a data e seus acontecimentos, especialmente para os estudantes mais jovens conhecerem a sua própria história. Depois, falou sobre o descaso com a memória de Ana Rosa – dispensada pelo IQ no ano seguinte ao seu desaparecimento, por abandono de cargo – e a posterior reparação do Instituto, que pediu desculpas formalmente por esta atitude à família e sociedade e construiu um monumento, em 2014, para perpetuar seu legado no IQ. Por fim, o diretor também reforçou o dever da Universidade de São Paulo e de suas unidades em se opor a qualquer forma de regime violento e antidemocrático.
 
Monumento em homenagem a Ana Rosa Kucinski
[Fernanda Maranha/Jornal do Campus]
 
A seguir, assumiu a palavra a Profa. Dra. Ana Lúcia Duarte Lanna, Pró-Reitora de Inclusão e Pertencimento (PRIP). Para começar, ela comentou sobre a atual mudança de perfil da Universidade, mais voltada para a inclusão, diversidade e pluralidade de conhecimento e de pessoas. Depois, falou sobre os números da Ditadura: 47 pessoas da Comunidade USP foram assassinadas no período e, dentre elas, 31 estudantes. Para ela, é de grande importância que a Diretoria de Direitos Humanos da PRIP qualifique estes discentes, através de suas famílias, com um diploma da USP. Seria uma maneira da Universidade oferecer uma reparação, mesmo que simbólica, que vai além de um pedido de desculpas. Por fim, concluiu seu discurso com a mensagem: “a memória é manter viva a luta pela democracia”.
 
Pró-Reitora Ana Lúcia Duarte Lanna [Comunicação IQUSP]
 
O segundo convidado a dar o seu depoimento no evento foi o Prof. Dr. Silvio Salinas – representante da comissão da verdade da USP. Ele relembrou como era a USP na época da Ditadura e comentou que a complacência em relação à repressão e controle militar dentro da Universidade tornou a vida no campus bastante difícil. Por fim, ele falou também sobre os relatórios da Comissão da Verdade da USP e as menções, nestes documentos, ao que se sabe sobre o caso de Ana Rosa.
 
Silvio Salinas, representante da Comissão da Verdade da USP
[Comunicação IQUSP]
 
Na sequência, subiu ao palco o Prof. Bernardo Kucinski, irmão de Ana Rosa. Ele também comentou sobre como foi viver na Universidade na época da Ditadura – reforçando para os presentes como aqueles foram tempos terríveis. Para Bernardo, a USP tem sua parcela de culpa nos eventos da época: “ela poderia ter mudado o curso dos acontecimentos, porque tem uma autoridade muito grande; porém, o Gabinete de Repressão estava instaurado ao lado da Reitoria”. Para finalizar, o professor enfatizou que, por sorte, sempre há os espaços de resistência.
 
Bernardo Kucinski, irmão de Ana Rosa [Comunicação IQUSP]
 
A penúltima convidada a falar na cerimônia foi a Profa. Dra. Shirley Schreier. Ela conviveu com Ana Rosa e afirmou que as duas eram muito amigas; assim, ofereceu aos convidados um depoimento mais intimista e pessoal. Primeiro, ela comentou sobre algumas memórias com Ana Rosa, ainda nos tempos em que ela era caloura na Química, na Alameda Glete. Depois, fez uma contextualização mais histórica: em 1969, muitos docentes da USP foram demitidos e vários foram aposentados compulsoriamente, além dos que foram perseguidos e assassinados. O dia a dia naqueles anos era de ausências, seja pelos desaparecimentos ou por alunos que estavam escondidos, para não serem presos pelos militares. Das 434 pessoas desaparecidas e mortas no Brasil, segundo os registros, 47 eram da USP – e só não foram mais, explica Shirley, porque a maioria já havia abandonado a Universidade para se esconder. Ela mesma se refugiou no exterior naquele período, por medo do que estava acontecendo e do que poderia acontecer.
 
Shirley Schreier, docente do IQUSP [Comunicação IQUSP]
 
Para finalizar o cronograma do dia, foi transmitido um vídeo apresentado por Karine Goulart, que não conseguiu comparecer presencialmente no evento. Karine é pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e seu estudo trata da história de vida de Ana Rosa Kucinski. Para ela, quanto mais se investiga este passado, mais se descobre a enorme importância de Ana Rosa para a história do Brasil e a escrita da historiografia. O caso dela é importante por causa da tortura, do desaparecimento político, da incineração, da atuação da Ditadura dentro das universidades. Além disso, a própria luta da família por memória, justiça e verdade deve ser exaltada. “Ana jamais será esquecida e nós vamos lutar para que isso nunca aconteça”, afirma. Há uma falta de memória na nossa sociedade brasileira, então histórias como a de Ana Rosa precisam ser contadas.
 
Convidados assistem à cerimônia no Anfiteatro Paschoal Senise
[Comunicação IQUSP]
 
No encerramento da cerimônia, o Prof. Pedro proferiu as palavras finais e abriu um espaço para que o público pudesse dar seu depoimento e fazer suas considerações. Entre os voluntários, duas alunas representantes da Associação Atlética Acadêmica Ana Rosa Kucinski (AAAARK) – a Atlética do IQUSP – também prestaram a sua homenagem.
 
Por Bruna Larotonda | Comunicação IQUSP
 
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Data de Expiração: 
01/01/3050