Central Analítica do IQUSP realiza curso de Espectrometria de Massas Maldi-Tof/Tof

Na última semana, entre os dias 27 e 31 de março de 2023, aconteceu no IQUSP o Curso Teórico-Prático de Espectrometria de Massas MALDI-TOF/TOF. Foram 50 participantes do módulo que acompanharam as atividades práticas na Central Analítica e as aulas teóricas de Thiago Carita Correra e Helton Pereira Nogueira, do IQUSP, e de Begoña Lopez, da empresa Bruker Daltonics.

As organizadoras Alessandra Ramalho, Giovana Lemeszenski e Vânia Bueno Silva contam que a motivação para a realização do curso se deu através de uma lacuna sobre a espectrometria de massas, em que elas viram uma possibilidade de preenchimento. “Aqui, nós somos uma central analítica, uma seção de prestação de serviço em várias técnicas — os alunos vêm e nos procuram para fazer análises. Em vias gerais, normalmente eles sabem o que eles querem e o que dá para fazer. Só que a gente começou a perceber que na área da espectrometria de massas teriam muito mais coisas que dariam para fazer e, de repente, os alunos estão sempre na mesma rotina, sempre pedindo a mesma coisa"; "ou vê que não dá certo e não buscam outras possibilidades"; "às vezes, acham que a técnica não funciona para a análise deles, sendo que na verdade, antes de chegar até nós, às vezes se perdeu muito conceito, muito a questão de preparo de amostra, campos de aplicação. Então, o que motivou a gente a montar esse curso foi isso. Foi nesse sentido de mostrarmos como a técnica funciona aqui mesmo, no chão de laboratório, quais são os princípios e a teoria envolvida. Porque a partir do momento que você conhece a teoria da técnica, às vezes você consegue aplicar no seu campo de pesquisa como uma ferramenta de identificação e de caracterização, para dar continuidade ao trabalho”, explicam elas. 

O curso já havia sido ministrado em 2017, mas somente para os funcionários do IQ. Neste ano, ele voltou focado na técnica Maldi-Tof/Tof e aberto para toda a comunidade, com possibilidade de participação também dos interessados de outras áreas relacionadas. “A ideia inicial era envolver toda a espectrometria de massas, que são vários equipamentos com diferentes tipos de aplicação, mas a gente enfrentou algumas barreiras e chegamos à conclusão de que seria muito grande"; "outra coisa é que isso iria ficar muito superficial"; "então, a gente decidiu montar esse curso teórico-prático para envolver as duas coisas, a pessoa entender a teoria e depois vir aqui e a gente mostrar na prática: 'olha, se você fizer isso, vai dar esse resultado'. Ela tem que vir aqui, ver, montar, pôr um pouco a mão na massa, para sentir o efeito do que está acontecendo. E o objetivo final de tudo isso é divulgar a técnica, ampliar o uso do equipamento e fazer com que as pessoas usufruam da ferramenta", finalizam.

Uma das aulas apresentadas foi a de Begoña Lopez, especialista de aplicação da Bruker, que falou sobre os princípios da ionização por Maldi para a análise de biomoléculas e sobre Maldi Imaging. Em sua exposição, ela comentou aplicações da técnica Maldi-Tof/Tof  — como para proteínas, imageamento e polímeros. De acordo com a especialista, uma das vantagens de se usar Maldi está na obtenção de análises mais rápidas. Quanto à resolução gerada nessas análises, ela explica que quanto mais estreitos forem os picos, maior será a resolução obtida — e isso é importante, uma vez que picos largos tendem a se sobrepor. Begoña também mostrou o portfólio de equipamentos para espectrometria de massas da Bruker e indicou como material de apoio o artigo ‘Beyond mass spectrometry, the next step in proteomics’. Na palestra, foram mostradas ainda simulações do software Demolab Metabolomic Imaging, para falar sobre a técnica de Maldi Imaging. O Maldi Imaging combina espectrometria de massas com microscopia e é usado para verificar a heterogeneidade de moléculas da amostra e identificar diferenças moleculares em regiões específicas.

 

Maldi-Tof/Tof na prática

Alessandra Ramalho, especialista de laboratório e uma das organizadoras do evento, apresentou aos participantes os equipamentos Bruker para Maldi-Tof/Tof que são disponibilizados na Central Analítica do IQ [Imagem: Aldrey Olegario | Comunicação IQUSP]

 

Para fixar e aprender na realidade o que foi apresentado na parte teórica, o restante da semana foi dedicado à parte prática do curso — que aconteceu na Central Analítica do IQUSP. Divididos em pequenos grupos, os participantes realizaram preparos e análises de amostras. Conforme explicou Alessandra, a técnica Maldi é considerada recente, sendo descrita oficialmente em 2002. Foi utilizada por Koichi Tanaka para a análise de proteínas, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Química.

Logo no início da atividade prática, Alessandra fez questão de frisar um dos momentos mais importantes na técnica Maldi-Tof/Tof, para que não sejam embutidos erros na análise: o preparo da amostra. Em síntese, o processo envolve a escolha de uma boa fonte de ionização, do analisador e do detector. Para que a ionização ocorra satisfatoriamente, a escolha da matriz correta é um passo essencial, uma vez que é ela quem deve absorver a energia do laser, prevenindo a destruição da amostra, e promover a ionização do analito. Nesse momento, então, foram apresentados alguns tipos de matrizes e em quais casos eles mais se aplicam, como as matrizes CHCA, DHB e SA.

Em grupos de 15 alunos, os participantes realizaram análises de amostras desde o preparo da matriz. Durante esse momento, também foram explicadas boas práticas de laboratório e contados alguns casos de erros comuns, que podem acontecer no processo de preparo e na análise — como a impressão de queratina pela falta do uso de luvas e destruição da amostra por uma alta intensidade do laser.

Railmara Pereira da Silva é pesquisadora de pós-doutorado no IQ em processos redox na inflamação e decidiu participar do curso para aprofundar uma nova técnica. "O que me motivou [a participar] foi aprender mais uma aplicação, mais uma técnica analítica diferente, trazendo possibilidades de poder aprofundar melhor nos meus trabalhos. Até o momento, está sendo super interessante, muito proveitoso, principalmente na ampla aplicação que a gente está vendo. Isso vai desde pequenas moléculas até macromoléculas — na área da biomolécula — e com uma aplicação mais clínica, até. Então, o que mais está me encantando é essa possibilidade de ver em tecido esses marcadores, isso amplia bastante o campo de aplicação da espectrometria — que, para mim, é uma técnica fantástica”, conta ela.

 

Por Aldrey Olegario | Comunicação IQUSP

 

Data de Expiração: 
01/01/3050